Comitê para prevenção de homicídios no Rio quer valorizar histórias de vida por trás dos números

Jovens acompanham o lançamento da iniciativa. Foto: UNIC Rio/Brenno Felix

Desde o ano passado, diversas instituições, entre órgãos de governo, do sistema de Justiça e organizações da sociedade civil do Rio de Janeiro, têm se reunido com

o objetivo de traçar estratégias para enfrentar a violência letal contra adolescentes no estado. Atualmente, 22 organizações participam da iniciativa.

Na quinta-feira (10), mais um passo decisivo foi dado pelo grupo — as entidades firmaram compromisso com a implementação do Comitê para Prevenção de Homicídios de Adolescentes, em cerimônia no Centro Cultural da Justiça Federal, no centro da capital fluminense.

Articulado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o comitê vai priorizar o acompanhamento mais próximo das trajetórias de vida de adolescentes assassinados para entender como evitar os homicídios, além de incidir no orçamento público buscando garantir recursos para programas de prevenção.

No médio prazo, outros dois objetivos são apoiar a construção de um plano estadual para prevenção de homicídios na adolescência e aprimorar procedimentos de responsabilização pelas mortes.

A representante do UNICEF no Brasil, Florence Bauer, destacou que a prevenção e redução dos homicídios têm sido um dos principais desafios na efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes no país.

“O Brasil teve um avanço em lidar com a mortalidade infantil. Mas agora as mortes acontecem em outra fase, na adolescência. São 29 meninos e meninas assassinados todos os dias no país. Eles são negros, em sua maior parte fora da escola há mais de seis meses e pobres. A prevenção tem de ser assumida como prioridade nacional”, declarou.

O rapper Alexandre Campos. Foto: UNIC Rio/Brenno Felix

O Brasil é o país com maior número absoluto de adolescentes assassinados no mundo. Em 2015, 11.403 adolescentes com idade entre 10 e 19 anos foram mortos. No Rio, entre 2000 e 2015, a taxa de homicídio entre adolescentes foi mais alta que a da população geral. Na capital, dados mais recentes mostraram que, em 2016, 335 meninos e meninas foram assassinados, 269 desse total eram negros.

Também presente no evento, o embaixador da UNICEF no Brasil, Lázaro Ramos, disse que a principal tarefa agora é agir diante da dura realidade indicada pelos números da violência.

“O desafio é como tiramos esses dados da anestesia, para que não virem simplesmente uma foto no jornal que lemos antes do trabalho ou um VT de tevê que vemos antes de dormir. O comitê aponta para uma direção de como podemos fazer. Essas vidas têm que ter voz e nome. Se não viram ‘o menor’, ‘a mulher arrastada’”, afirmou Ramos durante a cerimônia.

O comitê do Rio foi inspirado num outro, do Ceará, que acompanhou e estudou, desde o fim de 2015, as dinâmicas de vida dos adolescentes, identificando a maneira como as mortes aconteciam e fatores associados. Segundo a coordenadora do escritório do UNICEF no Rio de Janeiro, Luciana Phebo, a preocupação central do comitê é também fazer diferença no estado.

“Se há metodologia de prevenção e recursos, por que não acontece? Vamos trabalhar não só juntos, mas de maneira colaborativa. E este ‘juntos’ inclui também o jovem, o adolescente que vai atuar com a gente”.

O evento contou ainda com uma intervenção poética dos jovens cuja mensagem exigia “nenhum jovem a menos!”.

Alexandre Campos, de 22 anos, do Jacarezinho, zona norte da cidade, participou da apresentação. Ele explicou a atuação de jovens e adolescentes no comitê. “O papel do jovem é pensar em estratégias de prevenção de homicídios, a partir da experiência dos territórios em que vivem. No meu caso, quero propor intervenções culturais e esportivas que possam ajudar a evitar essa situação toda. Isso tudo junto com os órgãos públicos que de fato podem atuar para mudar o que está acontecendo”, concluiu.